segunda-feira, 24 de outubro de 2011

VOCÊ É UM ANIMAL, VISKOVITZ

Alessandro Boffa
            Eu, Viskovitz, era um micróbio.
            “Tamanho não é documento, Viskovitz”, ouvia dizer. “O importante é ser você mesmo.”
            Como se fosse fácil. Nem bem conseguira afeiçoar-me ao meu nome e já tinha me tornado dois micróbios, VISKO e VITZ. Imaginem então quando virei quatro: VI, SKO, VI e TZ. Fiquei em frangalhos.
            Era mais ou menos como todos nós estávamos então, no pré-cambriano. “Que fazer”, dizia-se, “a vida é assim.” “Metabolismo” parecia-me um termo mais apropriado. A nossa ideia de divertimento era sedimentar em companhia de coacervados e proteinóides, metano e amoníaco eram considerados uma “ótima atmosfera”.
            Quando começaram a me chamar de V, I, S, KO, V, I, T, Z, percebi que estava na hora de fazer alguma coisa. Mas qual coisa? E quem? Eu estava em minoria até dentro de mim mesmo, as pessoas me tratavam  por “vocês”.
            Foi então que ouvi aquela Voz: V, I, S, KO”, disse-me, “está na hora de virar bicho”.
            “Bicho?” Naquela altura, qualquer sugestão valia: o que para um era degeneração, para outro podia ser evolução.
            “Não sei por onde começar”, confessamos.
            “Por serem egoístas, cheios de si. É só se agarrar com todas as forças ao nosso minúsculo eu; não deve ser difícil para você...”
            Tentamos. O que de mim havia restado nos meus oito micróbios teve um frêmito de orgulho, um incremento de viscosidade e, com heróico esforço, fez que se agregassem num único plasmódio. Foi o primeiro organismo pluricelular, creio eu, e o primeiro eu verdadeiro. Exatamente eu, Viskovitz.
           “E agora?” perguntei.
           “Hum... Agora tem de aprender a matar e devorar o próximo. Grande como você ficou, não deve ser difícil.”
           “Outros seres vivos?”
           “Vivos só enquanto você não acabar com eles, Visko. Não há mal nenhum nisso: chama-se vida heterotrófica.”
Não me parecia perigoso, os vizinhos eram bem franzinos. Olhei em torno e logo encontrei o que me servia: Zucotic, o bacilo; Petrovic,o vibrião; e Lopez, o espirilo. Três paleogermes sépticos e virulentos que tinham me adoentado com as suas toxinas durante todo o arqueozóico. Fui lá, catei-os a tapa e devorei-os. Foi o primeiro exemplo de “sobrevivência do mais bem adaptado”, conceito que iria longe.
“E agora?”
“Agora deve aprender a... fazer aquela coisa... Bem, quer dizer... conjugar-se com outro organismo e recombinar-se. Encontre alguém que lhe agrade, para trocar um pouco de DNA.”
“Mas...”
“Não é feio, não, Visko. Siga o seu coração.”
Pensei que se referisse a VITZ, as quatro células que se agitavam no centro da minha sárcina, com um pouco de imaginação eu podia considerá-las um coração. Ejetei V e fiquei observando aonde ia. Foi logo tratando de escapulir, de afastar-se com torções e flexões do plasma. Segui-o remando com os flagelos até que o vi alcançar uma gelatina albuminóide de micoplasmas prateados, cingida por longos cílios filamentosos e fímbrias purpúreas. Foi então que perdia a sua pista.
“Ei, você aí, gel!”, berrei. “Ou muito me engano, ou você pegou o meu coração.”
“Aqui os corações vão e vêm”, respondeu com uma risadinha debochada a ladra de corações. “Como era o seu?”
“Um micoplasma esférico, um tanto elástico e mole, da última vez que o senti palpitar.”
“Bem, pode reavê-lo, se quiser. Mas tem que vir pegá-lo, plasmódio.”
“Plasmódio é o meu tipo morfológico, o meu nome é Viskovitz.”
“E gel é a vovozinha: o meu nome é Liuba.”
Com cautela, aproximei-me dela e aderi à sua massa viscosa, depois extroflecti I, endureci-o e afundei-o no corpo da sujeita para que nele encontrasse o compadre fujão. Naquele vai-não-vai, acabei perdendo também I, que se escafedeu e mergulhou, plasma e periplasma, no U dela.
Foi assim que inventei o sexo. Meio desastrado, mas com todo o coração. Perguntei à gelatina o que ela tinha achado daquilo.
“Isso é sexo?”, desatou a rir, tremendo toda. “Você chama isso de sexo?” Continuando a gargalhar, contraiu o sifão e fez-se ao largo, sem deixar rastro, deixando-me ali, com o coração me frangalhos.
Era aquele vazio que doía, aquela voragem no centro do ser. Não que VISKOTZ fosse um nome feio, entendamo-nos, mas era o nome de um plasmódio ferido, de um bicho diminuído no seu eu. Resolvi construir uma jaula de mureína em torno dos restos daquele coração.
“Não faça isso, Visko”, advertiu a voz.
“Você de novo!”, explodi. “Posso saber de uma vez por todas quem diabos é você?”
“Eu sou... a voz do seu plasma mais antigo. O Micróbio Primordial, a Protocélula de quem todos vocês nasceram, o EU que abrange vocês todos. Pode me chmar de VI.”
“VI?”
“É, VI. VI de VISKO, sua mente, VI de Vitz, seu coração, VI do sêmen que você difundiu, VI de toda a vida, meu filho.”
“Escute aqui...” Alguma lógica aquele discurso tinha, algo do primeiro micróbio podia ter ficado dentro de mm. E nos outros.
“Com que então seu plasma estaria dentro de todo o mundo, inclusive naquela Liuba, só para citar alguém.”
“Exatamente. E garanto uma coisa; você vai revê-la, Visko, vai revê-la. E talvez as coisas corram um pouco melhor para você. Talvez.”
“E vai me dizer que você também estava dentro de Zucotic, Petrovic e Lopez?”
“Estava e ainda estou. Também eles você vai ter de rever, Visko, a minha imaginação é aquilo que é...”
“Você pretende fazê-los evoluir também?”
“Evoluir é uma palavra que não me agrada. O divertido é ‘mudar’, Viskovitz.”
“Um momento. Você me chamou de Viskovitz, mas sabe muito bem que esse nome não faz mais sentido.”
“Sei o que estou dizendo. Olhe no seu coração e verá que tenho razão. Ande, não tenha medo, não é um exercício espiritual...”
Voltei-me para mim mesmo, hidrolisei os polissacarídeos e espiei. Naturalmente só vi T e Z. no entanto, com aquele contato íntimo, V e I de Visko começaram a reavivar-se. A duplicar-se, bilobar-se, septar-se e cindir-se. Poucos minutos depois, a regeneração era completa, e eu me encontrava diante dele, VITZ.
“Fiat eu...”, gritei. Eu era de novo eu, o velho animal, mais em forma que nunca. Bem, disse para mim mesmo, ótimo, ninguém mais me segura, chegou o momento de dar uma boa lição a todo mundo, ecossistema ladra! Desatei a chorar e a rir, como um garotinho. Tinha certeza de que, das minhas lágrimas salgadas, surgiria o mar, sim, senhor, o mar, e a  partir dali começaria a vida, a verdadeira vida...
“Muito bem, você agora é um animal, elogiou-se a voz, “mas ainda falta aprender uma coisa...”
“Ouçamos. A meiose? A fermentação? A ontogênese?
“A morte, Visko.”
“Está brincando.”
“Você não é mais um micróbio, Visko. Os animais morrem.”
“Um momento, amigo, um momento... Renunciar a tudo?”
“A tudo.”

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ENEM

Aos meus alunos e alunas da FUNEC
Chegando o dia,
tão odiado,
tão preparado,
tão desejado.

Noites sem dormir
Baladas com os amigos, no porvir
Ansiedade, estresse
Relaxar, nem se quisesse!

Correira total,
estudos, sem igual,
Depois, o alívio, no final,
quando ver seu nome,
na listagem geral

O ENEM marca a passagem
Início de nova viagem
Explorar futuras paisagens
Vida nova, na bagagem.
Uns, farão camaradagens,
outros, vestirão nova roupagem
Alguns, inventarão uma imagem
Vários, moverão engrenagens

Uma coisa é certa:
vem aí um tempo de muitas aprendizagens
que deve ser enfrentando com coragem.
Esta é a minha mensagem.

Boa sorte e bom ENEM pra todo mundo! Bjs!!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O ÓLEO DE LORENZO - ESTUDO DIRIGIDO


I.E.C.: INCONFIDENTES
Disciplina: BIOLOGIA
Professora: Daniela Versieux
ANO LETIVO: 2011
TURNO: MATUTINO
TURMAS: 3ºA, 3ºB, 3ºC e 3ºI

FILME “O ÓLEO DE LORENZO”
Orientações:
1. Assistir ao filme “O Óleo de Lorenzo”, uma produção americana de 1992. O filme pode ser encontrado em boas locadoras e também pode ser visto pela internet.
Ou então, acesse o grupo BIOLOGIA que formei no facebook: danielaversieux@yahoo.com.br

2. O estudo dirigido deverá ser feito em grupos de até 4 (quatro) alunos(as) e entregue dia 20/10/2011


ESTUDO DIRIGIDO

Questões

1. Caracterização da doença
A. Descreva brevemente a doença apresentada por Lorenzo (ALD – Adrenoleucodistrofia).
B. Faça um desenho de um neurônio normal e de um neurônio de Lorenzo, após o aparecimento da doença.
C. A ALD (doença de Lorenzo) é uma doença de herança recessiva ligada ao cromossomo X. Faça o heredograma da família de Lorenzo e dê os genótipos dos seguintes membros: tia 1 e tia 2 (irmãs de Michaela), tia Dee, Michaela (mãe de Lorenzo), Augusto (pai de Lorenzo) e Lorenzo.
D. Comente sobre o aparecimento do gene na família de Lorenzo. Como e quando ele teria aparecido? Qual o risco para os possíveis filhos da tia Dee?
E. Cite outra doença cuja herança é recessiva e ligada ao cromossomo X.

2. Estudo da doença por Michaela e Augusto Odone
A. Qual foi o exemplo (modelo) usado por Augusto Odone para explicar a doença? Descreva-o, se possível utilizando desenhos.
B. Você conhece outros modelos que explicam um problema ou questão científica, como fez Augusto Odone? Qual?
C. Como a dieta afeta a progressão da doença?
D. O que era o “Óleo de Lorenzo”? Por que ele era tão especial?

3. A genética, o indivíduo e a sociedade
A. O diagnóstico de doenças raras, recessivas, que aparecem “de repente” em uma determinada família, traz problemas familiares, emocionais e sociais. Cite dois desses problemas mostrados no filme.
B. Quais os aspectos positivos e negativos demonstrados na relação entre a família de Lorenzo e a comunidade médica?
C. Os pais de Lorenzo perceberam que os cientistas muitas vezes trabalham sozinhos, não socializando os resultados. Por isso, promoveram o primeiro Simpósio sobre a ALD. Como os interesses econômicos influenciaram o desenvolvimento das pesquisas sobre a doença de Lorenzo (ALD)?

OBSERVAÇÃO
Ao final das respostas, inclua o item “Referências”, citando todo o material utilizado para responder ao estudo dirigido (livros, revistas, sítios eletrônicos etc).